Como o comportamento das pessoas têm influenciado na publicidade
Me parece que só estamos começando a ver as consequências do Bug do Milênio (2000) e que o mesmo tenha realmente acontecido seguindo a premissa daquela velha frase do Gil Scott-Heron “A revolução não será televisionada” e agora, mesmo sem querer, estamos todos nos esforçando a se adaptar e ou buscar novas “normas e padrões” que a tecnologia e os meios digitais acabam derrubando por conta de toda sua velocidade e fluidez.
Hoje estamos vivendo a geração da escolha (vide o sucesso do On Demand) que vem com uma nova mentalidade e nada que a publicidade já não tenha encarado desde as gerações baby boomers, X e agora com os tais Millennials, por isso acredito que o que essa mudança mais tem influenciado na publicidade está na sinergia entre o negócio e as pessoas.
A começar pelos consumidores
Existem muitos assuntos e estudos que ajudam a definir a palavra consumidor, mas tentarei ser breve e falar apenas sobre a voz e o poder que possuem hoje. Acredito que eles sempre tiveram voz, mas a internet foi a revolução que deu a oportunidade de serem ouvidos, o diálogo que acontece diariamente nas mídias sociais revolucionou o boca-a-boca e o mais legal é que isso não acontece só nas mídias sociais, acontece em qualquer tipo de plataforma ou mídia em que se é permitido no mínimo deixar um texto, nem que seja com apenas 140 caracteres.
E assim, protagonizada pela tecnologia, começou a surgir essa miscelânea de associações de ideias; o conhecimento de culturas regionais pelo mundo afora; o surgimento de novos grupos e novas culturas, consequentemente, novas formas de se experimentar e consumir algo. Assuntos como empoderamento feminino, racismo e preconceito vem ganhando cada vez mais notoriedade e importância dentro e fora de casa e esse entendimento da causa é provido obviamente pela liberdade e diálogo que a internet nos proporcionou. Diante disso, tanto a publicidade quanto as marcas, precisam ou ainda precisarão rebolar muito para entender seus consumidores mais a fundo. A publicidade influencia, mas não é a principal fonte de transformação das pessoas, muitos dos consumidores digitais já diferem bem quando um assunto é um merchan ou propaganda, estão mais exigentes e conscientes, por isso seu comportamento de consumo em jornadas de compra não são mais mensurados apenas por cliques, onde as questões sociológicas e psicológicas estão mais em alta do que nunca, dados gerados por ferramentas de análise precisarão de pessoas que realmente entendem de pessoas para interpretá-los e propor ações mais significativas tanto para as marcas quanto para seus consumidores. A galera tá exigente e com razão, querem ser surpreendidos.
O impacto na publicidade
O primeiro impacto, em uma visão macro, influencia diretamente no modelo de negócio. Empresas como o Google e Facebook são exemplos clássicos de grande influência na mudança do comportamento das pessoas em todo o mundo (quem não dá uma “googada”?) e isso também influenciou no modelo de negócio de várias agências de publicidade e marketing digital, principalmente aqui no Brasil.
A migração do consumidor para os ambientes digitais fez com que tivesse um aumento na demanda em diversos tipos de serviços relacionados a publicidade como Content Marketing, Inbound Marketing, Mídia Programática, Social Media, Tecnologia, Design e outros serviços relacionados ao digital, ajudando a ampliar o portfólio das agências e na evolução do mercado como um todo.
Apesar disso, o processo criativo e a automação do marketing, ainda estão passando por uma simbiose que acaba influenciando nos negócios não só das agências, mas também dos clientes. Com o novo consumidor multi-telas, ampliar o alcance das marcas com uma campanha bem segmentada, aproveitando ao máximo o potencial que a tecnologia e os meios digitais proporcionam nos exige não só o investimento de esforço criativo em ações integradas (Branding x Performance, por exemplo), mas principalmente financeiro por parte das marcas.
O segundo ponto são os profissionais que fazem a publicidade acontecer. No geral, a disruptura das ideias acaba sendo de total responsabilidade desses mesmos profissionais. Hoje a publicidade está mais do que nunca envolvida nesse processo de transformação não só digital, mas social. Entender bem as atitudes comportamentais do consumidor se tornou item básico para qualquer empresa independente do seu tamanho, não só avaliando métricas de softwares de análises digitais, mas também analisando as questões psicológicas e sociológicas que interferem na formação de identidade e cultura das pessoas. Isso ajuda a enriquecer a extração de insights sobre o que influencia ou não suas respectivas tomadas de decisão.
O consumidor multi telas tem sede por novidades e esse crescente número de plataformas e formas de consumo de mídia- devido também a proliferação dos dispositivos mobile – deu as agências uma grande abertura para o desenvolvimento de novas ideias, principalmente em ações transmídia, unindo experiência e usabilidade, gerando muito mais valor e laços entre marca e consumidor. Claro, que essa ideia de pensar transdisciplinar não é tarefa fácil, nem tão mágica assim. Existe uma infinidade de canais, plataformas, telas e todo tipo de gente para todo tipo de assunto, por isso é importante que os profissionais procurem ter uma visão mais holística da comunicação e o planejamento dela, entendendo melhor os contextos de cada situação na geração das ideias e sua responsabilidade sobre o negócio e impactos na sociedade. Facilidade, vantagem e o novo são palavras que podem ajudar a nortear suas ações para esse novo consumidor.
Para concluir
No geral, as marcas também estão sentindo essa transformação e revendo seus modelos de negócio, muitas saíram na frente, serviços como Uber e Ifood nos provam isso e não para por aí, já existe uma gama de empresas dando exemplos de uma boa experiência de uso, trabalhando apenas com serviços através de um simples aplicativo mobile, por exemplo, que vai desde lava-carros delivery, passando por produtos geek, refeições e até bancos. Não existe publicidade inovadora para empresas que não possuem a inovação em seu DNA, elas precisam ser as primeiras a se arriscar e pensar em explorar novos horizontes.
A publicidade acumula a responsabilidade de ajudar as empresas nesta busca por inovação, desenvolvendo seus negócios, além de possuir um importante papel na construção da sociedade e é isso que está começando a vir a tona através dos canais digitais. Para esse novo consumidor, ter um propósito de marca claro, tanto interno quanto externo e entendendo bem sua dores e anseios, propondo soluções e experiências que realmente façam sentido em suas vidas, são os passos mais importantes.
Também acredito que a revolução nunca será televisionada e muita novidade ainda está por vir e enquanto existirem pensadores e pessoas com a mente inventiva ativa, os comportamentos também estarão em constante mutação. Para a publicidade só resta o que ela já entende bem, a resiliência de sempre. O camaleão muda de cor, mas não deixa de ser lagarto.